O que pode acontecer em 5 anos? Pouco tempo talvez para que uma vida comece e termine descobrindo o que há de melhor nesse mundo, mas tempo suficiente para que novas histórias sejam construídas, visões sejam transformadas e até mesmo, vidas sejam completamente afetadas por mudanças que não constavam no script. Aliás, se tem algo que aprendi nesses 1.825 dias como moradora de um compound na Arábia Saudita é que as grandes alterações na nossa rota jornada chegam com a aparência de novos caminhos que, aparentemente, apresentam todas as suas curvas e perigos logo de cara, mas que no fundo, não passam de atalhos para as verdadeiras mudanças que acontecerão.
Há 5 anos tomamos a decisão de vir para a Arábia Saudita e é claro que, como você deve imaginar, os acontecimentos que vieram após essa decisão geraram um “turbilhão” de sensações nos corações da nossa pequena família. Desde o primeiro momento que pisei nesse lugar, os contrastes que dali pra frente seriam tão comumente encontrados, já mostravam para mim de que as coisas nunca mais seriam como antes, os rostos não eram nenhum pouco familiares, o idioma tão diferente e aquelas mulheres vestidas com roupas que eu só costumava ver em filmes e matérias de jornal me afastavam da sensação de segurança tão presente em mim, que sempre fui tão corajosa.
Sim, eu entendi a coragem de enfrentar a vida como uma das minhas principais características, apesar da minha sempre fé em Deus e nos caminhos que Ele me permitia percorrer, continuo sendo falha a ponto de atribuir o que havia de bom acontecido na minha vida à qualquer uma das minhas qualidades. A Arábia Saudita chegou para mudar isso. Não tenho como atribuir às minhas forças a superação dos momentos tão difíceis que passei aqui, é simplesmente impossível achar que em mim existia algo bom e auto suficiente para lidar com a saudade devastadora que um ato simples como dirigir livremente poderia causar. O nosso ego aqui não tem vez, a nossa condição humana tão dependente das relações e de uma certa familiaridade não dá alternativas naturais quando o abraço da mãe está longe como nunca antes esteve, ou mesmo quando as pressões do trabalho começam a afetar toda uma família que decidiu embarcar em uma aventura do outro lado do mundo.
Até por que, não foram poucas as vezes que tentamos desistir de tudo e voltarmos para o mundo que para nós já era conhecido. As malas foram feitas e até chegamos a visitar o escritório da administração buscando soluções para que pudéssemos sair daqui o mais rápido possível, mas, da mesma maneira que grandes intervenções são feitas com as palavras mais sinceras, o mesmo aconteceu quando o choro tomou conta de nós da mesa do almoço e nosso pequeno Thomas disse: “Daddy, se voltarmos agora, é como se tivéssemos nadado, nadado e morrêssemos na praia.”. A verdade é que por trás de uma metáfora tão simples, uma grande verdade estava sendo lembrada para nós. O período de 5 anos é o mínimo estabelecido para que uma estabilidade seja garantida (o equivalente a uma aposentadoria vitalícia com metade dos ganhos de hoje) e assim, desistir antes desse período seria mesmo como nadar, nadar e morrer na praia. Seria o atestado que não aguentamos as dificuldades e que tudo aquilo seria em vão.
Bem, não desistimos. Chegamos até aqui descobrindo novas coisas, aprendendo com os nossos erros e falhas e, olhando a tristeza nos olhos, resolvemos sorrir. Decidimos entregar o nosso caminho ao Senhor como nunca antes havíamos feito e Ele nos guiou em cada passo, Ele nos deu força quando o choro parecia não ter fim, colocou alegria no nosso coração quando a depressão começava a cobrar o seu alto preço. Por isso, este post não tem um tom de pêsames e luto, mas sim de alegria e esperança. O nosso ego, orgulho e confiança em nós mesmos tem sido diminuída a cada dia para que Ele cresça, para que quando olhamos através desses 5 anos, apenas o nome dEle seja glorificado e que, nos próximos anos, possamos ter a mesma coragem de tomar a atitude mais audaciosa de todos: confiar o nosso caminho a Jesus.
Por tudo o que És, por tudo o que tens feito. Obrigada, Senhor.
Deixe um comentário